terça-feira, 9 de março de 2010

A Universidade Hoje

ZAMPIERI, Gabrielle Costa

Com a reforma do Estado, a educação deixa de ser um direito dos cidadãos e passa a ser como qualquer outro serviço, que pode ser terceirizado ou privatizado. A educação não mais é vista como direito de todos, mas dos ricos e, “ os ricos devem pagar pelos pobres”. Com essa reforma, o Estado transforma a educação, de direito em serviço e, percebe a universidade como prestadora de serviço. Ela, então, passa a ser uma instituição empresarial, administradora, capaz de gerar receitas e capturar recursos externos.
A reforma marca o início de uma luta das universidades públicas pela “autonomia” universitária, ou seja, o poder que antes vinha dos atos da presidência da republica, passou para as mãos da própria universidade e, a ela caberia instituir democraticamente suas próprias normas, através de seus órgãos representativos.
Com essa luta, a universidade passa de “instituição social” para “organização social”, com base nas novas formas do capital. Essa passagem dá a ela uma igualdade administrativa, como a de uma empresa, ou seja, a administração é percebida e praticada segundo um conjunto de normas gerais desprovidas de conteúdos particulares, aplicadas a todas as manifestações sociais.

A universidade, então, passa a ser entidade isolada, cuja eficácia se mede em termos de gestão de recursos e estágios de desempenho, cuja articulação se dá por meio da competição. Essa mudança na universidade ocorreu em três etapas sucessivas. Universidade funcional, universidade de resultados e universidade operacional.
A universidade funcional oferecia a classe média ascensão social e privilégios através do diploma universitário. Essa universidade buscava formar profissionais qualificados para o mercado de trabalho. Para isso alterou suas metas a fim de garantir inserção dos seus estudantes no mercado de trabalho.
A universidade de resultados aconteceu naquele período em que houve uma expansão de escolas privadas, sem deixar de alimentar a classe média para ascensão social. Abriu espaço para parceria com empresas privadas que financiavam pesquisas com interesses particulares, assim essa universidade garantiu à sociedade os resultados pelo qual ficou marcada.

A universidade operacional está voltada para si mesma, busca quantidade e não qualidade. Essa universidade perde sua marca essencial que é a formação.

Essas universidades foram as formadoras dos educadores que atuam nas escolas. E esses vão reproduzir essa formação baseada na função e nos resultados esperados pelo sistema financeiro. Pode-se perceber que as escolas também passam a ser organizações que buscam resultados, seja nos vestibulares, no número de alunos ou no reconhecimento social. O vestibular se tornou o principal objetivo da educação, que foi perdendo sua verdadeira essência.
As instituições privadas têm a necessidade de apresentar os resultados para que se mantenham no mercado competitivo. As escolas públicas, que deveriam oferecer a formação integral, foram “abandonadas” pelo Estado, fato que é favorável ao neoliberalismo, já que “alivia” os gastos do Estado e garante mais um meio de se obter lucros.
Analisando dessa maneira, fica difícil de visualizar uma saída para esse processo de formação de indivíduos especializados e adequados ao sistema.

Porém, é nas escolas e nas universidades, que pode-se vislumbrar a formação integral dos indivíduos. A economia é condicionante nas instituições que reproduzem a sociedade, porém essas instituições também reproduzem os conflitos da sociedade. E é aí que educadores das escolas, públicas ou privadas e das universidades podem realmente educar e transformar. Se esses educadores se entendem como parte de uma sociedade desigual e baseada em interesses e conseguem ter consciência disso, então existe a possibilidade de conduzir a uma formação mais reflexiva, transformadora e não totalmente vinculada a reprodução do neoliberalismo.

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