segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Hominização e Humanização: Os desafios da educação

VASCONCELOS, Udiléia de

Este artigo é o resultado de leituras, reflexões e pretende apreender as relações entre hominização e humanização. A humanização decorre da hominização, a condição básica para ser “humano”, tem como ponto de partida o momento que se passa do instinto para o pensamento, da não reflexão para a reflexão e consciência de suas ações. O ser humano diferencia dos outros animais transforma a natureza por meio do seu trabalho, este ato permite que o ser humano aja racionalmente e, neste fazer de si da origem ao processo de hominização. À medida que adquirimos valores humanos como a educação, assumimos essa condição de humanidade, por sermos capazes de transformar o mundo e fazer parte dele. Quando ocorre esse salto do instinto para o pensamento, rompe-se com o mero “estar” no mundo, para ser parte dele, produzindo, criando ,interferindo e avançando no processo evolutivo. Sendo que outros animais se ajustam ao mundo, mas são incapazes de interferir, estão simplesmente no mundo. Os seres humanos transformam o mundo deixando nele suas marcas de trabalho e seus vestígios.

Ao refletir recentemente sobre os desafios de nosso tempo, fica claro que a educação atual esta longe abranger o sentido integral da vida, de promover a integração e a descoberta de valores, voltada para competição de um globalizado cercado pelo neoliberalismo, desvinculado da espiritualidade humana que tanto nos difere dos animais. A educação num sentido amplo não deixa dúvidas em relação a sua função social e é um fator decisivo da hominização, em especial, da humanização do homem.

A sociedade atual é regida por um processo de globalização, pela padronização do ser humano, levando a uma nova forma de escravidão. As novas competências para a vida social e produtiva do capitalismo exigem novo tipo de conhecimento e é ai que entram a educação, escola e os professores, “criando” um novo jeito de agir, de pensar e de viver.
Compreender a educação frente aos interesses da sociedade de desiguais implica a construção de uma educação como possibilidades concretas de realização da “hominização” (ou seja, da humanização dos homens e das mulheres).

Este é o compromisso educacional no sentido de, conscientemente, praticar uma educação que abranja o sentido integral da vida, que atenda às necessidades sociais, fazendo da escola um lócus de formação humana, entretanto é preciso entender este espaço educativo no seu processo de hominização e de humanização do qual todos fazem parte.

A educação não pode ser pensada e produzida como um processo linear, mecânico, não é uma simples questão de exercitar a mente, adquirir conhecimentos, é levar as mudanças humanas e sociais buscando a integralidade em todas as dimensões humanas, na construção de novos sentidos. Visando uma articulação mais integrada entre o ser humano e sua atuação no mundo. Assim a educação deve pautar suas ações num papel humanizador e socializador na humanização do ser humano atendendo os propósitos de sua evolução.

Vale a pena ressaltar o que pensa Paulo Freire sobre a educação humanizadora “Não se pode encarar a educação a não ser como um que - fazer humano”. E em sua concepção humanista e libertadora da educação, ao contrário, jamais dicotomiza o homem do mundo. O mundo necessita, em todos os sentidos dessa compreensão. A educação deve conduzir à condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie.

A reintegração dessa relação homem e mundo se faz urgente. A educação tem a responsabilidade de desenvolver: a consciência humana e valores, que se reconheça como parte do mundo e saiba agir sobre ele. Nesse sentido o papel e a função social da escola tomam uma nova dimensão, de formadora de sujeitos capazes de agir e reagir, como Paulo Freire afirmava: “O que importa para a educação é a formação de cidadãos críticos, ativos, sujeitos históricos que intervenham no processo de formação da sociedade. Esse processo comporta o domínio das formas que permitam chegar à cultura sistematizada. E por esse motivo (...) já estaria justificada a importância da reflexão. ( Freire,1986)

Nesta dinâmica tem-se a meta da educação: a hominização e a humanização do homem. Essa integralidade do ser humano com o mundo e sua ação sobre ele, numa nova concepção de educar, pode ser vivenciado, de forma extraordinária pelos educadores de Pouso Alegre, no lançamento do Programa de Formação Continuada para Profissionais da Rede Municipal de Educação “Mais Formação, Mais Qualidade”, ao receber como palestrante a ilustre presença de um dos maiores pensadores do nosso país e da atualidade, agraciado com vários prêmios, Leonardo Boff.

O renomado palestrante nos alertou da urgência de caminhar na direção de um “novo paradigma civilizacional que redimensione as relações sociais do homem com a terra.” Importa dar-se conta de que “a lei fundamental do universo é a sinergia e a cooperação de todos com todos, pois tudo está urdido numa rede incomensurável de relações energéticas e materiais”, diz o mesmo autor, e não o consumismo e o domínio do mais forte sobre o mais fraco.
L BOFF (Princípio de compaixão, 9): “Precisamos de um novo paradigma civilizacional que redefina as relações dos seres humanos para com a vida e a terra, e que invente modos de produção em consonância com a natureza, e não às custas dela”.
10 L. BOFF, Princípio de compaixão, 13: “Da física quântica e da cosmologia contemporânea sabemos que a lei fundamental do universo não é a da competição (erigida pela racionalidade utilitarista) e o triunfo do mais forte, mas sim a sinergia e a cooperação de todos com todos. Tudo está urdido por uma rede incomensurável de relações energéticas e materiais. Tudo tem a ver com tudo, em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Nada nem ninguém podem viver fora destas relações. A própria matéria não pode ser vista como estática e inerte, mas sim como algo que se caracteriza por re-atividade, pela criatividade e pelo diálogo”.

Ao que tudo indica, a luta pela existência, que parece comandar os processos evolutivos gerais, e a educação deve promover a humanização e a integração do ser humano com o mundo, imbuídos de valores para ser capaz de transformar, produzir, criar, recriar e agir sobre ele. Tudo isso será possível através da educação ,pois segundo a filosofia “ O ser humano é um ser possível”. Uma educação que faça parte desse constante movimento, que seja um processo permanente de formação do ser humano em suas diferentes dimensões, afetivas, sociais, espirituais, cognitivas, relacionais...


Referências Bibliográficas:
ASSMANN, H. 1999. Reencantar a Educação: rumo à sociedade Aprendente. Petrópolis. 3ª ed.,Vozes.
BOFF,LEONARDO.Convivência,Respeito,Tolerância ,Vozes.2006.
FREIRE, P. 1994. Pedagogia da Esperança. Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 3ª ed.,Rio de Janeiro, Paz e Terra.
MORIN, E. 2002. Os sete saberes necessários a Educação do Futuro. 6ª ed., S. Paulo/Brasília,Cortez /UNESCO .