terça-feira, 20 de abril de 2010

Um por todos, todos por um!

ROSSI, Marliane Valladão


O título do texto é um grito de guerra. Aparece unindo os quatro mosqueteiros no romance de Alexandre Dumas e, otimistas que somos lutamos como mosqueteiros da educação, usamos como mosquete (arma de fogo da infantaria do século XVI) a esperança de que muitas teorias sobre educação que conhecemos poderão apontar direções para cumprirmos o papel de ensinar e de transformar a sociedade.


Vimos na concepção tradicional de educação que o papel da escola pode ser o de tentar equalizar desigualdades sociais, mesmo sabendo que não se pode confiar apenas a ela tal equalização. A instituição escolar é resultado de um meio econômico e político de onde não há como agir de forma independente. Tanto a escola pública quanto a escola particular deixam claro que o esforço individual, a lei do “cada um por si” indicará a ascensão social que se pretende alcançar. Não há nenhum determinismo dentro da sociedade atual que impeça as escolhas feitas por um cidadão.


A educação pode estabelecer a diferença entre quem quer um espaço no mundo capitalista e quem apenas se ocupa em respirar e trabalhar muito para apenas sobreviver neste mesmo mundo.


Vimos também que há outros pontos de vista. Há teóricos que ousam guerrear contra os mosqueteiros da educação. Sua tese principal é a de que ‘a escola não promove equalização social’, faz o oposto: legitima as desigualdades. Tal idéia analisa a escola mostrando-a como reprodutora de modos de pensar da classe dominante da sociedade, ditando modelos nas relações afetivas, familiares, trabalhistas e até religiosas. Cada aluno estaria sendo preparado para ser dócil e submisso, obedecendo àquele determinismo social indestrutível. Cada professor, inconscientemente, seria (que ironia!) um guardião da ordem (desigual !) estabelecida. Sendo assim, conclui-se, de acordo com esta teoria, que a sociedade age sobre a escola e não a escola sobre a sociedade. Seria uma luta ilusória.


Otimistas que somos, mosqueteiros da educação, estaríamos ensinando a oralidade, leitura e escrita, as operações matemáticas, as fascinantes descobertas científicas e tecnológicas, enfim, tudo e tanto para que a sociedade não se transforme?


A teoria que diz que a escola é simplesmente reproducionista é por si contraditória. Desde que o homem habita o planeta, age nele transformando-o. Como dizer que não haverá transformações, apenas reproduções? Basta um olhar para o passado e percebemos o caráter dinâmico da história humana, social, religiosa e “etc e tal”.


A escola contribui para equalizar, senão as riquezas, (por enquanto!), então, os direitos de cidadão, o que já é um movimento de “avant-garde” para nós, escola e sociedade.


“A relação educação e sociedade não é de modo algum uma relação mecânica, automática, de simples contigüidade, justamente porque educação e sociedade não são duas realidades exteriores, completamente determinadas e autônomas, que existiriam uma ao lado da outra, embora associadas. A relação concretamente existente entre elas é de determinação recíproca, ou seja, a sociedade sempre determina a educação e ao mesmo tempo é por esta determinada.”- Ildeu Coelho


Tal análise parece-nos muito acertada. A sociedade dita regras à escola que por sua vez dita e ditará regras sociais. “Queiram ou não os educadores, tenham ou não consciência dessa realidade, seu trabalho é necessariamente político. (...) Numa palavra, o político constitui o próprio ser do ato educativo, enquanto ato humano e, como tal, inserido na luta concreta dos homens” – Ildeu Coelho


Assim, o professor, agora e cada vez mais, adquire “munição” (e armas modernas, também!!) para sua luta em defesa do reinado da educação. Um professor não para de estudar e buscar soluções e método para continuar, hoje, conscientemente, a não apenas abrir os olhos da sociedade, mas aguçar todos os outros órgãos dos sentidos.


Do esforço de superação da concepção liberal e da concepção reprodutivista da educação, surge a concepção dialética da educação. Nesta área, a escola é um terreno de luta e o papel do professor, político que é, seria atuar neste terreno, neste campo de batalhas de forma democrática, mediadora e coerente com a contemporaneidade.

Nenhum comentário: