terça-feira, 20 de abril de 2010

A Educação Liberal

NOGUEIRA, Marialba Rigotti

A ascenção da burguesia ao poder, no século XVIII, na França, com a Revolução Francesa e com a declaração da Independência dos Estados Unidos, manifestou-se em um movimento intelectual expresso por Rosseau, Montesquier, Voltaire, Diderot. A visão do homem como sujeito do conhecimento torna inabalável a crença na capacidade da razão humana, cujo critério de verdade não é mais a Revolução nem a autoridade escolástica, mas a evidência racional.

São características desse movimento o otimismo cultural, com a difusão da ideia de que o conheimento torna a vida melhor, uma religião mais natural em consonância com a razão, o estabelecimento dos direitos humanos, uma economia que segue mais livre, sem a interferência do Estado (“laissez-faire, laissez-passer”) e na política, vem o Despotismo Esclarecido – uma monarquia mais esclarecida, mais racional. Nesse contexto, a escola passa a ter como missão ajudar na difusão dessa nova visão de mundo (Iluminismo e Liberalismo) para consolidar a ordem burguesa. Para Rosseau, o Estado é um aparelho da burguesia; como no capitalismo a burguesia detém o poder, o Estado funciona a favor desta. Esse funcionamento depende de dois aparelhos: o repressivo – força policial – e o biológico, na figura das instituições que agem pela ideologia, inculcando na cabeça das pessoas os pensamentos que interessam à burguesia. São seus agentes as famílias, as igrejas, os sindicatos, os partidos político e as escolas, sendo essas as que reúnem maiores condições de atuação. Nesse contexto, Althüsser vê o professor como agente.

Essa escola não foi somente uma bandeira da burguesia, mas também das camadas populares, que desejavam estar preparadas para o exercício da cidadania. Nessa concepção liberal da educação, a liberdade tem dois sentidos: a liberdade para educar, segundo os princípios da universalidade e da gratuidade, e a liberdade para ser educado com liberdade de conteúdos em uma escola, agora laica.

Em uma visão idealista da concepção liberal da educação, a desigualdade de classes é algo circunstancial e não estrutural, e a escola é o único meio de equalização das sociedades, pois prepara para o trabalho, criando “oportunidades iguais”. Uma visão que desconsidera os determinantes sociais da educação uma vez que cumpre uma função ideológica, mistifica as relações de classes e “vende” a ilusão de que essas relações podem ser equalizadas sem que haja supressão dessas classes. O professor é o maestro da equalização proporcionada pela escola, é o “messias”, o portador da boa nova. Porém, a origem da desigualdade social não está na escola, mas na sociedade da qual ela se origina. Deixa-se de lado o fato de que é a modificação da estrutura da sociedade que tem o poder de, se não eliminar, pelo menos minimizar a desigualdade. A escola é um instrumento dessa sociedade. Não se pode deixar de levar em conta que, nessa concepção, não se considera e a escola como fruto do contexto social. Segundo Louis Althüsser, a escola é um aparelho ideológico do Estado, reproduz o pensamento deste. Partindo de pressupostos marxistas, a sociedade produz bens e reproduz as condições de produção. Assim, uma sociedade capitalista, é o reflexo mecânico da estrutura social capitalista.

Após essa breve explanação sobre o nascimento da concepção liberal de educação, faz-se necessário acrescentar que a sua importância reflete-se em teorias pedagógicas que dela derivaram e que por muito tempo tiveram e ainda têm seu lugar dentro das salas de aula, como a pedagogia Tradicional, a pedagogia da Escola Nova, a pedagogia Tecnicista, a pedagogia não-diretiva, a pedagogia das Competências e o Construtivismo.

Concepção Pedagógica Liberal

MAGALHÃES, Viviane Tibúrcio

A pedagogia Liberal surge para justificar o sistema capitalista que teve como marco a Revolução Industrial. A escola pública, universal, gratuita e leiga surge em resposta às necessidades do capitalismo e como instrumento da hegemonia burguesa. Baseada no lucro e na produtividade, tem como principal característica a divisão entre as classes sociais, na qual, a classe social dominante, a burguesia, é detentora dos meios de produção e a classe dominado vende a sua força de trabalho, realizada de forma mecânica, fragmentada e competitiva.

Sustentada pela idéia de que a escola tem por finalidade preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais e a equalização social, a Pedagogia Liberal transfere ao educando a responsabilidade de seu próprio sucesso ou fracasso e fornece a possibilidade de ascensão social devendo a escola ser universal (a mesma para todos) e gratuita (acessível a todos).

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Um por todos, todos por um!

ROSSI, Marliane Valladão


O título do texto é um grito de guerra. Aparece unindo os quatro mosqueteiros no romance de Alexandre Dumas e, otimistas que somos lutamos como mosqueteiros da educação, usamos como mosquete (arma de fogo da infantaria do século XVI) a esperança de que muitas teorias sobre educação que conhecemos poderão apontar direções para cumprirmos o papel de ensinar e de transformar a sociedade.


Vimos na concepção tradicional de educação que o papel da escola pode ser o de tentar equalizar desigualdades sociais, mesmo sabendo que não se pode confiar apenas a ela tal equalização. A instituição escolar é resultado de um meio econômico e político de onde não há como agir de forma independente. Tanto a escola pública quanto a escola particular deixam claro que o esforço individual, a lei do “cada um por si” indicará a ascensão social que se pretende alcançar. Não há nenhum determinismo dentro da sociedade atual que impeça as escolhas feitas por um cidadão.


A educação pode estabelecer a diferença entre quem quer um espaço no mundo capitalista e quem apenas se ocupa em respirar e trabalhar muito para apenas sobreviver neste mesmo mundo.


Vimos também que há outros pontos de vista. Há teóricos que ousam guerrear contra os mosqueteiros da educação. Sua tese principal é a de que ‘a escola não promove equalização social’, faz o oposto: legitima as desigualdades. Tal idéia analisa a escola mostrando-a como reprodutora de modos de pensar da classe dominante da sociedade, ditando modelos nas relações afetivas, familiares, trabalhistas e até religiosas. Cada aluno estaria sendo preparado para ser dócil e submisso, obedecendo àquele determinismo social indestrutível. Cada professor, inconscientemente, seria (que ironia!) um guardião da ordem (desigual !) estabelecida. Sendo assim, conclui-se, de acordo com esta teoria, que a sociedade age sobre a escola e não a escola sobre a sociedade. Seria uma luta ilusória.


Otimistas que somos, mosqueteiros da educação, estaríamos ensinando a oralidade, leitura e escrita, as operações matemáticas, as fascinantes descobertas científicas e tecnológicas, enfim, tudo e tanto para que a sociedade não se transforme?


A teoria que diz que a escola é simplesmente reproducionista é por si contraditória. Desde que o homem habita o planeta, age nele transformando-o. Como dizer que não haverá transformações, apenas reproduções? Basta um olhar para o passado e percebemos o caráter dinâmico da história humana, social, religiosa e “etc e tal”.


A escola contribui para equalizar, senão as riquezas, (por enquanto!), então, os direitos de cidadão, o que já é um movimento de “avant-garde” para nós, escola e sociedade.


“A relação educação e sociedade não é de modo algum uma relação mecânica, automática, de simples contigüidade, justamente porque educação e sociedade não são duas realidades exteriores, completamente determinadas e autônomas, que existiriam uma ao lado da outra, embora associadas. A relação concretamente existente entre elas é de determinação recíproca, ou seja, a sociedade sempre determina a educação e ao mesmo tempo é por esta determinada.”- Ildeu Coelho


Tal análise parece-nos muito acertada. A sociedade dita regras à escola que por sua vez dita e ditará regras sociais. “Queiram ou não os educadores, tenham ou não consciência dessa realidade, seu trabalho é necessariamente político. (...) Numa palavra, o político constitui o próprio ser do ato educativo, enquanto ato humano e, como tal, inserido na luta concreta dos homens” – Ildeu Coelho


Assim, o professor, agora e cada vez mais, adquire “munição” (e armas modernas, também!!) para sua luta em defesa do reinado da educação. Um professor não para de estudar e buscar soluções e método para continuar, hoje, conscientemente, a não apenas abrir os olhos da sociedade, mas aguçar todos os outros órgãos dos sentidos.


Do esforço de superação da concepção liberal e da concepção reprodutivista da educação, surge a concepção dialética da educação. Nesta área, a escola é um terreno de luta e o papel do professor, político que é, seria atuar neste terreno, neste campo de batalhas de forma democrática, mediadora e coerente com a contemporaneidade.

A Pedagogia Tradicional e a Pedagogia da Escola Nova

PAIVA, Robson T.
Procurarei mostrar neste texto alguns pontos que caracterizam e que diferenciam a pedagogia tradicional da pedagogia da escola nova.
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